O avesso do mundo
- Vitor Araujo

- 29 de set. de 2020
- 1 min de leitura
Um dia, por algum insondável motivo a vida não lhe sorriu e o palhaço, deixou de sorrir para a vida. Estava cansado de transformar em alegria a tristeza dos outros, o que fazia a todo o custo, mesmo que tivesse de virar o mundo do avesso, para arrancar as gargalhadas contidas. No entanto, com o que estava por detrás da sua aparente ausência de tristeza, ninguém se preocupava. Ninguém questionava a finitude da fonte de onde brotava a sua incansável vontade, de transformar rostos fechados em olhares felizes e plenos de esperança. Por isso, naquele dia, o palhaço não pintou a cara, não vestiu o fato ridículo, nem calçou os sapatos à medida (de um palhaço). Vestiu-se de roupa normal, e passeou-se pelas ruas da cidade, como as gentes normais. Por momentos sentiu-se bem, naquele imposto anonimato. Mas os rostos dos que por ele passavam, ameaçavam começar a fechar-se lentamente. Os olhares entristeciam e todas as esperanças pareciam esmorecer. O palhaço não resistiu e ali mesmo, no meio do nada mas bem no coração de tudo, renunciou a todas as tristezas e desilusões que o invadiam, e mais uma vez mostrou a todos, o avesso do mundo.






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